Propagando o terror na web
- Isys Bastos
- 7 de nov. de 2017
- 4 min de leitura

World Trade Center, New York. Foto: Pixabay/Wikilmages
Assim como a ciência e a tecnologia, que representam grande fonte de poder ainda desconhecido e que por tempos foram considerados perigosos, hoje a população se mobiliza quando o assunto é o medo do século XXI: o terrorismo. Para quem, como eu, nasceu nos anos 1990, desde a infância esse termo vem sendo firmado como sinônimo de alarme, principalmente porque está por toda a internet, que também era recém chegada nas casas da época.
Mais do que o ato terrorista em si, que pode ter capacidade para matar inúmeras pessoas, o discurso do terror é um fator que vive no ar, absorvido pelas pessoas, estampado na mídia, discutido nas casas, nas ruas e nos livros.
Após o 11 de Setembro, marco do começo do fortalecimento desse tipo de discurso, as pessoas, por mais seguras que estejam em suas casas, não podem deixar de imaginar que a qualquer momento a sua paz pode ser abalada. Principalmente pelo fato de que a violência em si tem sido difundida de forma tão gratuita que não é preciso viver em um ambiente de conflito para se ter medo do que acontece do lado de fora de sua porta - e isso não só nas grandes cidades, pois mesmo eu, que até o final de minha adolescência vivi apenas em cidade pequena, ouvi relatos que nunca imaginei acontecerem tão próximos de mim.
Nos dias atuais, sem dúvidas os principais agentes do terror são os grupos organizados, como o autointitulado Estado Islâmico (EI). Com a internet e seu alcance global, suas ameaças e estratégias para recrutar jovens do mundo todo se tornaram muito mais eficientes. E seus membros não economizam nesse recurso.
Nas últimas semanas, temos visto as ameaças feitas pelo EI a um dos eventos que mais une cidadãos e torcedores de diversos países, a Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Utilizando cartazes online que mostram jogadores de grande prestígio como Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar sendo executados, os terroristas querem impor que estão acima de todos e portanto, ninguém é inalcançável para eles.
Ano passado, situação de alerta semelhante aconteceu às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Por ser um evento de porte global, como a Copa do Mundo, a ocasião em si já preocupa, devido ao grande número de pessoas aglomeradas em um mesmo local. O que intensificou essa preocupação foram as provocações do EI ao divulgar suas mensagens em português, além da busca por recrutar membros que dominassem o idioma, insinuando que poderíamos estar no “alvo’”.
Ainda que para nós os ataques sejam acontecimentos distantes da América, e que para nosso alívio as ameaças não tenham se concretizado, o Brasil não deixa de demonstrar cada vez mais compromisso diante desta certeza de segurança tão frágil que consideramos ter. Depois da lei de combate ao terrorismo, adotada em março do ano passado - e que teve lá suas oposições -, a cooperação de segurança com outros países, como a França e Estados Unidos se intensificou, o que sugere que um dos pilares da política externa do Brasil - que se baseia na tentativa de não tomar partido em conflitos estrangeiros - pode estar sendo obrigado a passar por mudanças.
É preciso que uma atitude de mais conscientização e informação seja tomada. Não que eu discorde das atitudes que o Brasil tomou na situação das Olimpíadas - no sentido de subitamente aplicar aos soldados um treinamento inclusive com a instrução dos Estados Unidos, que considerava o nosso país despreparado para proteger seu povo e seus visitantes.
Estou, menos ainda, considerando insignificantes as medidas preventivas que a Rússia está tomando agora, uma vez que tem sido vítima de ataques e é mal vista pelos terroristas devido à sua posição na Síria. Creio que essas medidas de reforço e colaboração com outros países são importantes, já que o terrorismo ultrapassa fronteiras, mas o que me deixa pensativa é a forma como esses grupos investem tanto em propaganda.
Digo isso porque acho triste que a web possa ser algo tão perigoso, uma vez que, ao meu ver, é a principal responsável pela expansão tão grande destes atos terroristas. Jovens como eu, que têm suas vidas, famílias, mas que muitas vezes não conseguem lidar com os problemas ou com a solidão e acabam se rendendo aos convites de pessoas que estão online à espreita de recrutar um novo combatente.
Casos como de Brian, de 21 anos, filho de brasileira e condenado na Bélgica a cinco anos de prisão por terrorismo, e da austríaca Smara Kesinovic, de 17 anos, que após fugir para a Síria acabou sendo morta pelos jihadistas, não são relatos difíceis de se encontrar. Mas quando se está em um momento de fragilidade, se alguém te oferece atenção, e não importa quem seja, automaticamente um laço é criado. Com a correria diária, muitas vezes essa atenção às pequenas coisas é deixada de lado.
Mais do que questionar a divulgação desse tipo de discurso, ou ainda, a forma como são reproduzidos por outros meios de comunicação - motivo de muito debate, já que alguns internautas afirmam que isso apenas colabora com as ameaças -, acredito que um olhar mais atento às pessoas que estão à sua volta também é algo que está em grande falta, e é um erro que desponta para várias outras complicações sociais.
A internet é livre e, assim, qualquer coisa pode ser divulgada e transmitida através dela. Mas o que vai ou não entrar em nossas casas, atingir nossas famílias, é uma escolha nossa diante da percepção de uma propaganda enganosa.
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