O problema da obesidade
- Yasmin Machado Dias
- 20 de out. de 2017
- 5 min de leitura
Brasil reduz desnutrição e entra para a lista de países com mais da metade da população acima do peso.
Segundo o dicionário, obesidade é substantivo feminino e significa excesso de peso de um indivíduo. Mas não é só isso, a partir da década de 1990, a obesidade começa a ser vista pela medicina como uma doença, que agora atinge 18,9% dos brasileiros. Os dados são do Ministério da Saúde, que também observou que o número de obesos no país cresceu em 60%, entre 2006 e 2016. E não foi só a obesidade que aumentou. O excesso de peso, ou sobrepeso, subiu de 42,6% para 53,8% durante o mesmo período.

Escolher entre uma opção saudável e alimentos calóricos nem sempre é fácil. Foto: Yasmin Machado Dias
E foi antes de 2015, data proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), que o Brasil atingiu o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que tinha como meta reduzir pela metade a quantidade de pessoas desnutridas em diversos países ao redor do mundo. A desnutrição ainda é uma das preocupações do governo federal, mas agora não é a única, principalmente porque o número de crianças abaixo de cinco anos acima do peso também subiu.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017, 7,3% das crianças do país com menos de cinco anos estão acima do peso, e as meninas são mais afetadas por esse problema. Foi firmada uma parceria entre a Amil (empresa brasileira de assistência médica) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para combater tanto a obesidade quanto a desnutrição na primeira infância e adolescência.
Entre os males do século
A endocrinologista Ana Chartuni Teixeira Cury relatou que a predisposição genética relacionada à obesidade pode chegar a ter uma influência de 50% na vida de uma pessoa, e mesmo que ela faça uma reeducação alimentar e mudanças no estilo de vida ainda terá uma dificuldade enorme na perda de peso. “O seu cérebro não entra em saciedade, a queima de gordura e o gasto energético é ruim, é lento, por isso esses indivíduos precisam fazer um esforço maior para que haja uma melhor queima calórica”, salienta Ana Chartuni.
Devido a dificuldade de conseguir reduzir peso e medida, é importante que aqueles com predisposição genética tomem mais cuidado com a saúde para prevenir a doença, ressaltando a importância disso já na primeira infância. A endocrinologista também ressaltou que a pior época para uma pessoa desenvolver a obesidade é entre cinco e 12 anos, além disso, o desenvolvimento desses casos genéticos são tão sérios que a única solução se torna a cirurgia bariátrica quando adulto.
Outra questão diz respeito ao envelhecimento, “porque existe uma redução do metabolismo ligado à redução da massa muscular”, de acordo com Ana Chartuni, e que também reduz o gasto energético. "Ao mesmo tempo, tem a parte osteo muscular, então a pessoa sente mais indisposição, mais dores no caso de uma atividade mais intensa.” É importante ressaltar que a hipertensão e as doenças cardiovasculares têm mais chances de serem desenvolvidas por pessoas mais velhas, portanto cuidar da alimentação e do peso nunca deixa de ser primordial. Principalmente no caso das mulheres, afinal o metabolismo delas cai após a menopausa de maneira mais intensa que o metabolismo masculino.
Ana Chartuni também chamou atenção para a diabetes, uma das doenças que podem ser geradas a partir da obesidade e cujo número cresce a cada ano. Um dos motivos para o aumento dessa doença é que ela exige mudança de estilo de vida e isso é algo difícil de alcançar e por vezes, nem é desejável, afinal, existem muitas pessoas sedentárias. “Em termos epidemiológicos, a principal consequência da é obesidade é a diabetes tipo 2”, acrescentou a médica endocrinologista.
Lembrando que a diabetes tipo 1 aparece geralmente na infância ou adolescência porque o sistema imunológico da pessoa ataca as células beta (aquelas que produzem a insulina que ajudam a regular o nível de glicose no sangue), portanto pouca insulina é liberada no corpo. Na diabetes tipo 2, o organismo não consegue utilizar a insulina que produz ou não consegue o suficiente para controlar a taxa de glicemia, que é a concentração de glicose no sangue.
É importante falar do sono também, pois dormir mal aumenta a compulsão alimentar durante o dia devido ao mal-estar, principalmente daquelas pessoas que possuem a Síndrome de Pickwick, que é a dificuldade respiratória noturna, ou apneia (suspensão momentânea da respiração) noturna.
E com o aumento de crianças acima do peso no Brasil, a indicação é realmente a ingestão de alimentos saudáveis como frutas, legumes e verduras, evitar os excessos de gordura saturada, que tem origem animal e incentivar atividades físicas. Porque “crianças também têm sofrido com hipertensão, diabetes tipo 2 e também tem a parte psicológica”, salientou Ana Chartuni, acrescentando que as crianças obesas podem sofrer bullying na escola, portanto cabe aos pais se atentarem à saúde de seus filhos.
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Obesidade e a questão psicológica
A depressão, em grande parte das vezes, não leva a obesidade porque a falta de vontade de comer é um dos sintomas mais comuns, entretanto o contrário pode ser verdade, pois a obesidade pode levar à depressão, dependendo da pessoa. A psicóloga Maria Luiza Bazarelli relacionou a ansiedade e o ganho de peso, “estresse e ansiedade levam a alterar o funcionamento dos hormônios, isso interfere no físico, e pode fazer com que a pessoa acabe caindo na compulsão por comida. E mesmo que não haja compulsão, o estresse acaba causando um ganho de peso.” Ela também afirmou que não precisa ser estresse apenas no local de trabalho, mas que a pressão e o nervosismo, no geral, podem causar mudanças nos hábitos alimentares.
A pessoa que tem transtorno de ansiedade pode descontar a frustração na comida, tanto para compensar a falta de alguma coisa como para se acalmar, e isso pode se tornar um ato compulsivo do ansioso. As causas da ansiedade são inúmeras, pode ser na área profissional, seja a correria ou pressão nos estudos ou trabalho, como pode estar relacionada com a área pessoal, a família e os amigos, por exemplo.
As emoções em montanha-russa nem sempre geram o desejo de comer, mas a comida se torna um escape, uma maneira de descontar a frustração sentida pela pessoa e os alimentos mais procurados são aqueles ricos em gordura ou açúcar, extremamente prejudiciais à saúde. Isso ocorre porque ao ingerir doces, exemplificando, o cérebro libera substâncias que dão a sensação de prazer à pessoa que comeu.
Dessa maneira, a ansiedade pode levar não só ao ganho de peso como também à doença da obesidade.
Maria Luiza Bazarelli frisou a importância de procurar ajuda nesses casos e que isso deve incluir uma equipe interdisciplinar porque a pessoa ansiosa ou depressiva deve fazer acompanhamento com psicólogo, mas também precisa reeducar a sua alimentação. Os profissionais que podem fazer auxiliar no processo são endocrinologistas e nutricionistas,que irão checar a questão da saúde relacionada à obesidade e outros problemas como hipertensão, doenças cardiovasculares e diabetes.
Depois, é necessário proximidade para acompanhar a evolução da pessoa no sentido de estabelecer uma alimentação saudável e transformar em hábito a prática de exercícios físicos. A ajuda de profissionais de saúde é importante em qualquer caso de sobrepeso ou obesidade, não apenas aqueles que envolvem a ansiedade ou depressão.
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