A pele e suas alergias no verão
- Isys Bastos
- 19 de out. de 2017
- 5 min de leitura
Segundo a OMS e a ASBAI - Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, 35% dos brasileiros apresentam algum tipo de alergia. A reação alérgica, é uma defesa que o organismo desenvolve durante algum momento da vida, considerando um sistema imunológico mais instável. Devido a isso, uma vez alérgico a algum componente, o indivíduo torna-se mais suscetível a se sensibilizar com outros, podendo até se tornar uma situação “bola de neve”, como explica a dermatologista Vânia Piccinini. Por exemplo, "a dona de casa, que vai se expondo todo dia, toda hora a produtos de limpeza, e isso vai sendo absorvido pelo corpo e acaba desenvolvendo a alergia".

Dra. Vânia Piccinini / Foto: Isys Bastos
Com o aumento das temperaturas e a chegada do verão, crescem as chamadas dermatites de contato. "Com o calor, por exemplo, pode surgir uma irritação e consequente alergia a bijuterias, em pessoas que por anos usaram sem apresentar incômodo nenhum". Isso é o sistema imunológico reagindo ao níquel, um metal muito comum nesses objetos", comenta a doutora. Segundo ela, essa relação entre temperatura e suscetibilidade se explica pelo aumento da transpiração, que provoca uma dilatação dos poros e permite que substâncias sejam mais facilmente absorvidas através da pele, que nessa época também tende a ficar mais ressecada e frágil.
Foto1: Isys Bastos. Foto2: Minha Vida/Pinterest
Nesse sentido, qualquer produto que entre em contato constante com determinada parte do corpo, pode desenvolver uma alergia, como a tintura de cabelo no couro cabeludo, cosméticos no rosto, perfumes no pescoço, desodorantes nas axilas, o esmalte de unha nas mãos, os brincos de bijuterias nas orelhas, entre outros. “A gente costuma chamar inclusive as pálpebras de ‘antena da dermatite de contato’, pois sempre levamos as mãos ao rosto, então, por exemplo, uma alergia a esmalte pode causar coceira no rosto e inchaço das pálpebras por esse motivo, e muitas vezes o paciente até não acredita nisso”.
Quando a alergia dificulta a proteção
Quando ser alérgico se torna algo comum, e o organismo reage contra determinados alimentos e também medicamentos, é preciso buscar saídas que possam evitar o contato com a origem do problema ou amenizá-lo. Vânia comenta que é possível desenvolver alergia inclusive ao protetor solar, uma vez que também contém componentes químicos. “Nesse caso, a pessoa pode experimentar outras marcas, ou optar pela manipulação de uma fórmula especial, e se ainda assim tiver reação alérgica, é preciso evitar o sol ao máximo, inclusive usar uma sombrinha ao se expor a ele”.
Este é o caso da estudante Emily Luana Vieira da Silva, de 17 anos. Além da rinite alérgica e sinusite, que tem desde criança, ela comenta que ao longo dos anos desenvolveu alergias a alimentos industriais e a alguns cosméticos e maquiagens, e no calor forte acaba tendo mais dificuldade de lidar com esses problemas. “Evito pegar sol pois não posso usar protetor solar nenhum, até o antialérgico queima e aparecem bolhas”, explica. “Então ou eu uso maquiagem com protetor, que irrita também mas é aceitável, ou nem uso. Se uso filtro comum, meus pés, cotovelos e rosto ficam empolados e a rinite volta ”.
O uso de medicamentos antialérgicos também ajuda, com o uso correto. “Tomo tipos variados, sempre mudando, para não criar resistência a nenhum”, afirma Emily. Segundo a doutora Vânia, mesmo os produtos próprios para a pele alérgica podem desenvolver alergia de acordo com seus componentes, pois cada organismo tem sua maneira de absorvê-los. “Os produtos hipoalergênicos são desenvolvidos para peles sensíveis, como as dos bebês, mas ainda assim não é 100% garantido que eles vão se adequar a todas as pessoas, principalmente as que já são alérgicas. Com o uso constante, pode acontecer sim”.
A estudante Hágatha Guedes, de 26 anos, aposta nos produtos infantis e está sempre atenta às embalagens dos mesmos, tendo a certeza que são específicos para peles sensíveis, além de ter o cuidado de sempre levá-los consigo, junto a um aviso com informações sobre sua condição e contato da família, para o caso de algum imprevisto. “Eu só uso as marcas que já testei e não tive alergia, levo shampoo que já estou acostumada a usar, o sabonete que uso, específico para bebês, quando sei que vou precisar”.
O repelente infantil também faz parte do seu kit. “Tenho alergia a insetos, qualquer picada vira uma ferida e preciso fazer tratamento dermatológico depois”. A brotoeja, reação de pele que é mais comum em bebês, é um dos problemas que já enfrentou, e foi uma novidade nada agradável. “Descobri indo na praia, quando os locais em que transpiro mais começaram a empolar, como pescoço, rosto, tórax. Quando fui à minha dermatologista, ela me explicou que era uma reação ao meu suor, e que com pessoas muito alérgicas isso pode acontecer”.
Dra. Vânia explica que ao se expor ao sol, principalmente ao ir a praia, o cuidado com a pele deve ser redobrado, sempre dando uma atenção especial à ordem de aplicação dos produtos:
Maquiagem e cosméticos
Para quem tem o hábito de se maquiar com frequência, existem ainda outras formas de prevenção ao sol. “Uma boa opção são os protetores com base, que algumas marcas já oferecem para peles sensíveis. Eles têm um fator de proteção alto e ainda escondem imperfeições”, explica a dermatologista.
Entretanto, mesmo com a variedade de produtos e constante inovação para melhorar a experiência de pessoas que não podem usar maquiagens comuns, é preciso tomar cuidado, pois com o tempo mais seco e pele ressecada, os riscos aumentam. “Existem sim maquiagens específicas para quem é alérgico, já usei em clientes e elas ficam bem satisfeitas” conta a maquiadora Fernanda Alessi, de 35 anos. “Mas uma coisa muito importante é o prazo de validade e a conservação, que deve ser sempre em local que não pegue sol”. Armazenar produtos no banheiro, por exemplo, onde o vapor do chuveiro provoca umidade, pode levar à proliferação de bactérias nos mesmos.
Fernanda Alessi / Foto: Isys Bastos

Além disso, antes de aplicar qualquer produto no rosto, é importante que a pele esteja sempre bem higienizada para que não obstrua os poros. “Hoje no mercado já temos a água micelar, que pode ser aplicada com algodão para limpar, hidratar, ou até mesmo gelo, enrolado em um pano e massageando suavemente, refrescando os poros”, orienta Fernanda.
Outra recomendação importante é jamais dormir com maquiagem. Ainda que aparente ser algo sem importância, essa atitude ocasiona o envelhecimento da pele, além de ocasionar
espinhas e aumentar a oleosidade. A mesma deve ser retirada com um removedor específico para o tipo de pele, cuidando para não causar irritações e sensibilidade.
Atualmente existem testes que auxiliam no diagnóstico da alergia, como o teste de puntura (para alergia alimentar ou inalatória), teste de contato (para identificar alergia a determinada substância), teste intradérmico (reações alérgicas alimentares, inalatórias ou medicamentosas, além de detectar as vacinas que o paciente já recebeu) e inclusive exame se sangue (usado em casos mais severos ou quando os outros testes não apresentaram resultados suficientemente satisfatórios).
É indispensável que nos primeiros sinais o paciente procure o médico, uma vez que a automedicação pode agravar o quadro. Após o diagnóstico, o acompanhamento com um dermatologista garante o controle e a melhora das reações alérgicas.
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