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Cidade maravilhosa?

  • Mayara Affonso
  • 16 de out. de 2017
  • 5 min de leitura

Foto: Yasmin Machado Dias

Não é de hoje que o Rio de Janeiro ostenta o título de “Cidade Maravilhosa”. Grande parte desse apelido está relacionada à presença e à mistura da natureza dentro de uma metrópole, resultando em belas paisagens. Também dando jus a essa denominação, não podemos esquecer da vida boêmia dos cariocas, que não precisam esperar até a sexta-feira para encontrar música de qualidade e ruas cheias que proporcionam uma boa descontração.

E o que dizer do Carnaval? Todos que participam dessa festa carioca, conhecida como uma dos melhores do mundo, com certeza não esquecerão de tal experiência. Até mesmo a estação mais fria do ano “esquenta” a rotina dos cariocas, que não se intimidam com a temperatura e curtem uma prainha em pleno inverno.

Em meio a tantas qualidades, os problemas que a cidade enfrenta parecem ser deixados de lado. Nas últimas semanas, a Rocinha, maior favela do Rio de Janeiro, entrou em guerra, a guerra do tráfico. Além de afetar a rotina dos mais de 70 mil moradores do complexo, o conflito levou caos a outras comunidades da cidade, como o Complexo da Maré, por exemplo.

A briga pelo controle do tráfico na região se deu a partir da insatisfação do comando do atual chefe, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, substituto de Nem da Rocinha, ex-comandante do comércio de drogas da favela. O próprio Nem deu ordens para que seus “seguidores” invadissem o território para retomarem o controle do tráfico de drogas.

Foto 1: eacuna/Pixabay. Foto2: Skitterphoto/Pixabay

Em meio aos tiroteios, trabalhadores honestos, crianças e demais moradores precisaram se abaixar no meio das ruas e procurar algum abrigo para escaparem dos tiros. No caminho para a escola, crianças tiveram que desviar de corpos estirados ao chão, cobertos de sangue. Não havia nada que os pais pudessem fazer. A realidade cobria os olhos daqueles que eram obrigados a conviver, desde sempre, em uma zona comandada por criminosos. Infelizmente, (ou felizmente?) grande parte dos habitantes da favela são pessoas de bem, caso contrário, outras alternativas poderiam entrar em pauta para cessar a guerra e, quem sabe, “apagar” os bandidos. Mas voltemos à realidade.

O problema do Rio de Janeiro vai muito além da guerra do tráfico. A falta de segurança pública também é um dos maiores infortúnios presentes diariamente na Cidade Maravilhosa, afetando tanto os moradores quanto os turistas. Todos os dias ouvimos que houve um arrastão na Praia de Copacabana, ou que uma loja de um shopping da Zona Sul foi saqueada. Isso sem contar os furtos e assaltos em vias expressas, troca de tiros entre policiais e criminosos e perseguição em bando por menores de idade que todos os dias cometem crimes por saberem que nunca serão punidos. Com certeza não haveria impunidade se essas situações sucedessem em outros países, mas como dizem no Rio: “já estamos acostumados”.

Vejamos: como petropolitana, me encontro há uma hora de distância do Rio de Janeiro, portanto, quando visito a cidade, me considero turista (a contragosto de alguns amigos que insistem que para ser turista é preciso viajar longas distâncias). Logo, como viajante, é impossível não fazer uma comparação de lugares que já visitei com a cidade do Rio de Janeiro.

Sempre uso como exemplo a viagem que fiz para os Estados Unidos no último ano. Apesar de muitas pessoas dizerem incansavelmente que essa comparação não é válida, essa é a visão que eu tive como turista e, que portanto, me ajuda a formular com mais clareza tudo o que eu penso sobre o Rio de Janeiro, pois como já dito anteriormente: eu não moro na cidade do Rio de Janeiro.

Em Manhattan, coração de Nova York, pude observar que a segurança é bem forte. Há postos policiais espalhados próximos a grandes pontos turísticos, como a Times Square, Central Park, Rockfeller Center e One World Trade Center. Além disso, nos postes de iluminação das ruas, há um botão de emergência que, quando acionado, leva a polícia rapidamente até o local para prestar socorro a quem necessita. (Já pensou se tivéssemos tecnologia parecida no Brasil? O botão seria motivo de piada, já que muitas pessoas o usariam desnecessariamente para azucrinar a polícia).

Assim sendo, não tive medo de circular pela cidade em nenhum momento. Sempre estive com o celular na mão fazendo registros fotográficos sem me preocupar se um menor infrator apareceria do nada para tirar o aparelho das minhas mãos. Também tive tranquilidade em fazer compras nas lojas sem me importar se um ladrão armado entraria para roubar a loja em plena luz do dia.

Isso não quer dizer que não há violência em Nova York. Não estou querendo insinuar isso, ou nada parecido. Em áreas desertas do Brooklyn, por exemplo, também há guerra de facções, tráfico de drogas, roubo, estupro, como demais delitos. A diferença é que os criminosos do Brooklyn não vão até Manhattan atentar contra a vida de um turista, como vimos incansavelmente ocorrer no Rio. Você não vê menores de idade circulando em áreas turísticas para furtar pessoas nem nada parecido. E se isso acontecesse lá você acha que eles ficariam impunes? Acho que não, não é mesmo?

Quando vou ao Rio de Janeiro, vou por insistência de um amigo que lá reside. Vou para matar a saudade e quando estou passeando pela cidade não consigo me sentir segura. Às vezes acho até mais garantido deixar o celular em casa para evitar que algo de ruim aconteça. É um absurdo pensar que não temos a liberdade de tirar o celular do bolso para atender uma ligação; é triste que a cada dia que passa a impunidade aumente.

Infelizmente temos a sensação de que no Brasil a lei nunca está a favor dos inocentes. A falta de punição contra menores infratores só aumenta a criminalidade e também o número de crianças e adolescentes que estão embarcando na vida do crime. Muitos falam que prender não é a solução, mas a impunidade por acaso resolve alguma coisa? Alguém está pensando em formas de resolver essa questão? Enquanto isso o “Direito dos manos” segue o fluxo.

Mas o que esperar de uma Justiça que concedeu liberdade temporária para que Ana Carolina Jatobá, culpada pela morte da menina Isabella Nardoni, pudesse passar o último feriadão do Dia das Crianças em casa? Muitos irão dizer: “ah, mas a Ana Carolina Jatobá tem família, tem filhos”, esquecendo que no dia que ela participou da morte de Isabella ela destruiu uma família, a da mãe de Isabella. O que esperar de uma Justiça que permitiu saída temporária para que Suzane Von Richthofen, acusada de planejar a morte dos próprios pais, passasse o Dia das Mães fora do presídio?

A resposta é que não temos mais nada para esperar. Nada mais surpreende. A cada dia temos a certeza de que o Brasil é “Um país de todos”, da forma mais irônica possível.

A aposentada Marilda Almeida dá a sua opinião sobre a violência na cidade do Rio de Janeiro

 
 
 

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*Trabalho da disciplina "Mergulhão de Hipermídia". Professores responsáveis: Flávio Lins e Wendell Guiducci.

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